quinta-feira, setembro 1

Fugidinha

Ivan acordou com o aroma do café. Esfregou os olhos que logo saltaram para o pulso em busca dos ponteiros que guiavam sua vida. Viu que era quase oito e trinta. Esticou-se como se de borracha fosse e lembrou da noite de amor. Silvia foi incrível como há muito tempo não era! Estava feliz!
Chutou o lençol e pulou da cama. Vestiu-se calmamente assobiando uma canção do Rei Roberto. Quando estava colocando a camisa o ombro raspou no queixo e percebeu que não podia escapar de fazer a barba antes de sair.
Foi ao banheiro e usou o novo barbeador elétrico que comprara meses antes de barbada em Rivera. Ao passar a loção ouviu o som da TV que vinha da sala. Flavinho já devia estar de pé em frente aos seus desenhos animados – pensou com um sorriso paternal -. Mijou e saiu do banheiro.
Vendo a confusão de lençóis na cama lembrou-se da noite anterior e se orgulhou de seu desempenho, mas também do de Silvia. Depois de tanto tempo, ainda estavam muito bem no quesito “cama”. Pegou a carteira no criado mudo e deixou uma nota de cinqüenta ao lado do despertador para as despesas do dia – manter a casa e Flavinho não era lá muito barato, mesmo com a parcimônia de Silvia! -.
Passou pela sala e deu um beijo na cabeça dourada do menino. Os desenhos não deixaram o pequeno nem notar no carinho recebido. Olhou para a TV. Estava passando Pica-pau – Ah se eu pudesse ficar atirado com ele assistindo essa bobagem boa o dia inteiro! Pensou – e foi para a cozinha a procura de Silvia.
Ela estava na pia lavando um resto de louça do dia anterior, com seus cabelos louros desgrenhados e com uma roupa surrada apropriada para um sábado de manhã. A mesa estava posta convidativamente para dois – Flavinho já devia ter tomado o seu “Nescau” – .
Olhou o relógio. Nove horas, começou a ficar preocupado, não podia se demorar. Olhou novamente Silvia. Mesmo assim mal vestida ela era como alguns diziam “um pedaço de mau caminho”. Ele estava nos seus cinqüenta e seis e tinha ela que estava apenas com vinte e nove. Sentiu-se orgulhoso novamente naquela manhã. Chegou-se e a beijou na nuca.
_ Bom dia preguiçoso! – ela cantou em seu ouvido ao virar-se – O café ta na mesa! – deram-se um longo beijo.
_ Vamos tomar ele então! – apressou Ivan! Ele começava a ficar nervoso. Não podia se demorar muito, pois caso contrario teria de se explicar com Neusa.
Sentaram-se e serviram-se de café e torradas. Silvia comia calmamente enquanto ele devorava o desjejum, não por fome, mas por pressa. Estava ficando cada vez mais nervoso e não sabia se era pelo horário ou pela mentira. Não tinha trabalho algum no sábado, mas usara como desculpa para ir para Neusa.
_ Amorzinho, que bom se você pudesse ficar com a gente essa manhã!
_ Nem me fale Silvia! Seria um sonho! Mas você sabe como são os compromissos... – correu os olhos para o relógio furtivamente.
_ Eu sei amor! Eu entendo! – Tomaram o resto do café em silêncio. Ivan levantou-se de um pulo.
_ Putz!... Já estou atrasado... Amor, tenho de ir. – falou nervosamente como fala quase todos os mentirosos. Beijou-a e deu um rápido beijo na cabeça de Flavinho. Pegou a maleta e as chaves do carro.
Em questão de segundos estava na rodovia. Olhava nervosamente o trafego e o relógio no pulso.
Era sempre a mesma coisa, Ivan ficava uma pilha de nervos quando tinha de sair às presas da casa de Silvia e voltar pra casa, para os braços de sua esposa Neusa e de seu filho Miguel.

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