quinta-feira, novembro 12

Literatura x Sub-Literatura


Escutei Charles Kipfer – escritor e professor que gosto muito – dizer na BandNews Fm que a sub-literatura não cria leitores.
Respeito o escritor e professor, mas discordo desta afirmação, até porque acho muito difícil classificar o que é sub-literatura.
Comecei lendo, como quase todos os garotos começam. Lia Tio patinhas, Pato Donald e principalmente Tarzan, Batman, Supermam e outros superherois enlatados, que não considero sub-literatura, mas sim uma mídia diferente, com proposta diferente para um público “alvo” diferente.
Só passei a ler livros “sem figurinhas”, quando entrei num universo – esse sim, considerado por quase todos como sub-literatura – que era a dos antigos pocket’s de faroeste e guerra. Isto mesmo, os livrinhos de Marcial Lafuente Stefania & cia.
Com o tempo, meus pais perceberam que eu gostava de ler e compravam para mim uma coleção maravilhosa – que era semanal - editada pela Abril -, chamada “Clássicos da Literatura Juvenil”. Ali pude ler “Odisséia”, “Robinson Crusoé” – aliás o primeiro que li da coleção, e li mais de quatro vezes, sabe-se lá quantas vezes -, “Moby Dick”, “20.000 léguas submarinas”, “Tom Saywer”, “Huckberry Finn”, “Viagem ao centro da terra”, “Bem-Hur”, “As viagens de Gulliver” e muitos outros, adaptados para o público adolescente, que só não tenho hoje porque dei a coleção de presente ao meu filho.
Dos adaptadores, só lembro de nome, o maravilhoso Monteiro Lobato e das ilustrações maravilhosas de Miécio Tatti.
Eram clássicos escritos de uma forma simples para a cabeça simples de um adolescente.
Destes, parti para alguns livros de Agatha Cristhie – influenciado pelos filmes –, até chegar no “Capitães da Areia” de Jorge Amado.
Foi paixão a primeira vista. Li “Cacau”, “Suor”, “Seara Vermelha” e alguns outros até delirar com os três livros de “Subterrâneos da Liberdade”. Aí – pela influencia destes - entrei para o mundo da política e para a inconstante busca da verdade nos livros. Se a encontrei não sei, mas pelo menos eles me ensinaram a pensar em vez de só repetir o que os outros falam.
A partir deste(s), tornei-me um leitor adulto, mas sem medo de vez em quando me aventurar pelos sonhos de Julio Verne, ou nas aventuras de Ken Follet e inclusive nos universos fantásticos que concebem roteiros e desenhos maravilhosos. Falo de Franck Miller, Bill Sienkiewicz, Moébios, Jodorowsky etc.. e também de brasileiros como Luiz Gê, Miguel – Mike – Deodato – Pai e filho – e Mozart Couto.
Não apresente Chopin e Beethoven a periferia que sem dúvida ela nunca gostará de Chopin e Bethoven.
Não apresente Arlindo Cruz e Carlos Cachaça ao asfalto que sem dúvida ele nunca gostará de Arlindo Cruz e Carlos Cachaça.

O “hábito da leitura” vêm, como a própria expressão diz: pela leitura.
Quem não lê, nunca gostará de ler.
Adoro o “O velo de Onagro”, “Trabalhadores do Mar” e o “Germinal”, mas se tivesse lido Henoré de Balzac, Victor Hugo e Emile Zola na época em que lia Bob Kane, Lee Falck, Jack Kirby ou Maurício de Souza, provavelmente hoje teria ojeriza aos livros.

3 comentários:

Bárbara disse...

Poxa, esses dias eu e o ti estavamos conversando justo sobre isso.
Graças à Mauricio de Sousa hoje eu tenho amor pelos livros.
E acho que muitos mais devem isso à ele.
Adorei a parte de Arlindo Cruz e Carlos Cachaça, Chopin e Bethoveen.
Tu é mesmo demais!
Adorei esse post e concordo plenamente em discordar de Kipfer!
Te admiro, te adoro!

Vania Teske disse...

Não esquecendo que há uma turma bem legal fazendo a ponte para a leitura, os professores. Vários deles têm bons projetos para as novas gerações gostarem de ler e muitos têm obtido sucesso.

Humberto Orcy da Silva disse...

Concordo contigo, ouvi uma entrevista dele no programa do Rui, falando sobre a queda das vendas na feira do livro, achei as idéias dele muito elitistas, com essas idéias as vendas vão continuar caindo.