sexta-feira, julho 17

Esparando ele ligar


Ela olhou para os ponteiros do relógio na parede pela segunda vez naquele último minuto. Ele ainda vai ligar! Ela tinha certeza. Podia demorar, mas ele ainda iria ligar. Quem não daria retorno para um número que havia ligado seis vezes e deixado quatro mensagens no mesmo dia? As mensagens ela nem lembrava mais quais foram e as ligações foram sempre de total silêncio. Sempre que ele atendia, ela esperava uns três segundos em silêncio e desligava. Desligava e ficava a olhar para o telefone como quem implora: Liga! Liga!
Mas ele não ligou nenhuma vez. Mas era só esperar que ele ligaria. Ela sabia! Foi assim nas outras noites!
Olhou novamente para os ponteiros que estavam praticamente na mesma posição que antes. Estaria quebrado aquela porcaria? Aproximou-se do relógio e fez silêncio. Apurou o ouvido e não ouviu nada. Já ia pegar o dito cujo da parede quando lembrou que os relógios a pilha não fazem barulho.
Fixou os olhos no segundeiro que movia-se mais rápido que o preguiçoso ponteiro das horas. Sim! Estava funcionando! O negócio seria fazer alguma coisa para passar o tempo. Computador! Nada melhor para passar o tempo que o computador. Ela lembrou de quantas noites passou em claro na frente da tela do PC sem se dar conta que lá fora o dia amanhecia.
Enquanto o PC ligava, ela foi à cozinha preparar um café. Café solúvel. Só então percebeu que desde que conhecera ele, passara a tomar café solúvel. Antes disso nem pensar. Só tomava café passadinho na hora. Como a gente vai tomando para si as manias da pessoa que a gente ama pensou ela enquanto servia a caneca com cara de Garfield.
Sorveu um longo gole. Maravilhoso, mas iria colocar em uso novamente a cafeteira esquecida no fundo do armário. Tem coisas que devemos romper ou as lembranças não nos abandonam!
Logou-se no MSN e ficou triste ao ver que ele estava off-line. A “bruaca” da Márcia estava on. Se ele estivesse também na certa aquela vaca estaria teclando com ele. Ela nunca perdia uma chance “a oferecida”! Correu os olhos pelos contatos e não achou ninguém com quem quisesse falar. Resolveu dar uma olhada nos e-mails.
Não havia nada de interessante a não ser um que ela estava certa de ser uma palhaçada. As pessoas tem essa mania de mandar bobagens umas para as outras.
Ora! Desde quando a pessoa pode acessar “privacidade” nas opções do MSN e clicar no nick de alguém que está off-line e ficar sabendo se foi bloqueada ou não pela tal pessoa? Afirmava para si no mesmo momento em que tentava passo-a-passo ver se fora bloqueada por ele.
Não! Eu sabia que era besteira... é lógico que isso não funciona! Falou em voz alta um tanto aliviada. Ser bloqueada por ele seria algo que ela não iria agüentar. Ele já fizera coisas horríveis mas, bloqueá-la seria o fim.
O sinal de aviso - no canto inferior direito do monitor – de que alguém acabara de entrar fez seus olhos verem o horário na tela. Ótimo, pensou ela. Só mesmo o PC para fazer os lerdos ponteiros se mexerem.
Desligou a maquina e lavou a caneca do Garfield. Ele agora irá ligar. Ela sabia que há essa hora ele já devia estar preparando-se para dormir. Apagou a luz da cozinha e foi sentar-se ao lado do telefone. Será que ele vai ligar para o fixo ou para o celular? Ficou com o celular no colo, bem próximo das mãos. Bom! Agora é só questão de uns poucos segundos e ele liga! Ela sabia!
Passados alguns minutos em total silêncio ela decidiu ir para a cama. Ele vai ligar para o celular mesmo, para que ficar em pé? Trocou-se rapidamente e deitou-se com o telefone entre as mãos. Para não ficar de “bobeira” ligou a tv e ficou a assistir “sem ver” o telejornal. Sua cabeça estava presa na ligação que não acontecia.
O telejornal já ia para o encerramento quando ela acordou de um rápido cochilo. O celular caiu. Assustada ela busca-o, não pensando em que possa tê-lo estragado na queda mas, sim preocupada em ver que horas seriam.
Não podia ser verdade. Aquela hora ele normalmente já estava dormindo. Ele já devia ter ligado há muito tempo. O que ele estava pensando que ela era, algo que se joga fora? Aquele desgraçado iria se ver com ela.
Sentou-se de um pulo na cama e discou aquele número que ela já havia discado intermináveis vezes. Uma chamada.... Esperar... Outra...
_ Alô!... Surgiu uma voz sonâmbula do outro lado do aparelho.
_ E não me ligue nunca mais ouviu! – gritou e desligou satisfeita.
Foi dormir.

2 comentários:

Bárbara disse...

hahahaha....A-DO-REI!
Mas é bem o que acontece!
Inclusive, conheço uma pessoinha que se encaixa nessa historia! ;)
Beijocas, meu amigo!

Bárbara disse...

hahahaha....A-DO-REI!
Mas é bem o que acontece!
Inclusive, conheço uma pessoinha que se encaixa nessa historia! ;)
Beijocas, meu amigo!