segunda-feira, março 30

Aroma de Jasmim


Marco aspirou com força, Sentiu aroma de jasmim.
A diáfana presença de Xavier estava ali e Xavier o enlaçou por sobre os ombros. Coisa de amigo. Marco beijou-lhe a face macilenta e convidou-o com um envergonhado movimento para sentar-se no banco de concreto que a bondade municipal o oferecia.
Xavier não sentou. Não foi ato de rebeldia ou descontentamento. Xavier estava sem saber o que fazer enquanto Marco olhava a paisagem com olhos de fotografo. Marco parecia querer registrar a paisagem para sempre. Acostumou a ver coisas feias. A que via o aprazia.
Marco o puxou pelo braço como se assim pudesse.
O mundo é bonito – devolveu Xavier -, sim... É muito bonito.
Sei pai... respondeu Marco.
A gente ... – continuou Xavier - só fóde com ele...
Sei pai... respondeu Marco.
Mas poderia sentar ao meu lado para conversar – insistiu o filho.
Se Lênin tivesse sentado – respondeu Xavier – a revolução seria feita? Se Dumont tivesse sentado hoje estaríamos voando? Se Chaplim falasse seria genial? Se Marco Pólo...
Ta bom!...Ta bom!...Ta bom...
Vou ficar de pé. Aproveitar o tempo que posso ficar de pé! – proclamou Xavier.
Marco secou uma lágrima que achou que correria do olho esquerdo e levantou-se.
Vamos ficar de pé. – resolveu -.
Ótimo!... – falou o pai – É de pé que um homem deve ficar!
Pai! temos pouco tempo... – implorou Marco -.
Pois é!... Quando quis usar esse tempo, tu não tinhas tempo!
Desculpa.
Deixa de frescura e me dê um abraço!
Era um pedido inusitado e fora de tempo – para a cabeça do filho -. Marco respirou profundamente e afrouxou todos os músculos de seu corpo. Não iria negar aquele tão esperado e tardio abraço.
Jogou-se nos braços do pai como um náufrago a uma ilha. Os braços de seu pai eram ao mesmo tempo reconfortantes e estranhos. Não lembrou de estar seguro por aqueles braços em nenhum momento em sua vida. Aquilo era muito bom, prazeroso, gostoso e seguro.
Ficaram naquele enlace por poucos segundos, mas foi o suficiente para eles sentirem a necessidade do amor, da amizade, da cumplicidade e da segurança que cada um precisava.
Uma nova vida veio ao mundo, outra deixou de existir por uma doença acometida, uma mais apagou-se com um tiro sabe-se lá de onde, uma folha caiu de um carvalho, um amor chegou ao fim, alguém caiu de bêbado e outro de descuido, uma estrela cadente cruzou os céus, uma tartaruga caiu na rede de um pescador, um copo caiu no chão, alguém deixou cair uma moeda de cinco no vaso de um banheiro imundo, um beijo foi roubado, uma cerveja foi aberta, um casal brigou e um gerânio floresceu naquele momento. Mas eles – naqueles segundos que se abraçaram – não viram nada alem de: Pai e Filho.
Pai...Perdemos muito tempo, mas agora não há mais nada a fazer!
Sei meu filho! Apenas esperei este momento de poder abraçar-te!
Xavier soltou-se do abraço.
Vamos lá! Estão todos esperando.
Sim! Vamos... Te amo meu filho!
Também te amo meu pai!
Xavier retornou a sala onde estava sendo velado. Voltou a deitar-se em seu caixão e descansou tranqüilo.
Marco ainda ficou por um tempo no jardim sentindo as lágrimas correrem pelo rosto e um leve aroma de jasmim.

2 comentários:

Bárbara disse...

Quando eu penso que não dá pra ficar melhor, tu me vem com uma dessas! Bah...é de emocionar. Tu é bommmmm hein stanislau!

Tiago Rosa disse...

Coisa mais bonita!