sexta-feira, maio 11

Retratos de um País

"O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. O tédio invadiu as almas (?) A ruína económica cresce, cresce, cresce? O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. De resto a ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do País (?) Não é uma existência, é uma expiação".

O texto acima não se refere ao Brasil e sim a Portugual, e foi escrito há mais de um século pelo escritor português Ramalho Urtigão no livro "As Farpas".
Não é para esmorecer os ânimos, mas para não esquecer-mos que uma mudança não é algo que se opera em um ou dois mandatos ou em uma ou duas décadas. Bem pelo contrário. Espero que sirva como combustível para que todos nós continuemos fazendo no mínimo um pouquinho de nossa parte.


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